quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Um Lobo é o que é, e não o que tem que ser.


Uma das condições para o Ichi coexistir comigo era ter o mínimo de treino de obediência. Pois bem, nada que eu não estivesse interessado, disposto a fazer e com uma grande convicção de que ia sair dali um “lobinho” muito obediente...não podia estar mais errado...não é que ele não o seja, já vi piores. Acho que o desleixo, em termos de treino, parte de mim e não dele, ele só quer ser um cão e fazer coisas de cães.
 Os cães, para serem cães, ladram, urinam, defecam, roem, escavam, entram para onde querem e quando querem, comem o que querem...adiante. O Ichi não é  diferente de outros cães, a diferença é que para nos darmos bem tinha que lhe mostrar que no mundo dos “macacos falantes” existem regras. Claro que ele podia urinar e defecar, mas seria nos sítios indicados pelo bípede mandão. Outros comportamentos seria permitidos mas também em alturas e locais nomeados pelo “chefe” ganhando, assim, recompensas...”a fair deal”.    
As regras de etiqueta símias podem ser uma tortura para um cão. O que nós podemos fazer, como “lideres” (ignorem este titulo), é tornar a experiencia num jogo/brincadeira e não na dita tortura. O Ichi gosta de treinar/brincar. Devo dizer que, infelizmente, não o fazemos as vezes que o Ichi queria. Que seria a todo o tempo excepto quando se come e/ou dorme - “Bad Monkey!”    
O tempo que está sozinho o Ichi explora o seu lado mais lupino, o que me deixa chateado (comigo mesmo) por várias razões. Uma questão quase filosófica assombra-me quando o apanho, ou vejo, as suas criações lupinas - e para que não haja duvidas, falo das cenas que eu queria que ele não fizesse, como escavar buracos no jardim ou ir comer ao lixo – posso contraria essas vontades, e treinar para que não o faça, mas ele é um cão e sei que não deixa de ser menos cão se não o fizer. A questão é...e esta é a grande verdade...não posso ficar chateado com ele por ser cão nem comigo por ser humano. Ele é o que é, posso mudar isso? Sim mas moralmente é injusto...por isso fazemos 50/50...e eis o acordo entre lobos (ou lobo e pseudo wanna be lobo) – “Tu fazes o que eu te peço, em troca vamos correr/passear e fazes os buracos que quiseres, corres atrás do que quiseres e mijas onde quiseres. Vou-te desculpar caso faças alguma coisa má em casa, pois provavelmente é porque ficas aborrecido e tens que passar o tempo, mas temos que alterar isso e quero que, nunca fiques tu, chateado comigo por eu não conseguir.”


PS- Ando a pensar mudar o nome, a imagem dos Celtas e dos Japoneses que mudavam o nome consoante os feitos alcançados...e visto que andas feito “porquinho” e a afocinhar tudo, acho que te vou chamar Twrch (ou Torc – Porco selvagem ou Javali em Galês)

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Um passageiro (In)esperado.


 Depois de ter sido retirado da mãe, de ter percorrido mais de três mil quilómetros estava agora no corredor da morte porque não era rentável (ou qualquer outra desculpa idiota),isto porque, qualquer lobo checo vale mais do que quinhentos ou seiscentos euros, e ele tinha sarna sarcóptica, o que o tornava num indesejado...como isso era mentira.
Posso dizer que ainda existem bons humanos, humanos Humanos para quem uma vida é uma vida. O então Dreamy estava a salvo, foi acolhido numa FAT (família de acolhimento temporário) e espera alguém que o quisesse.
 Entretanto lá andava eu, nas minhas lamurias. Apesar de estar bem acompanhado faltava o companheiro canino que sempre desejei.
 Sem acreditar muito em “destinos” ou “fados” posso dizer que esta coincidência foi milagrosa, visto ser uma num milhão. Um lobo checo era sem duvida o cão que sempre quis ter mas a ideia já tinha sido deixada para trás e substituída por “um cão qualquer mas que não fosse caniche”. Pois bem, o meu destino/sorte foram três raparigas: A futura veterinária que o acolheu para que não fosse eutanasiado, a amiga que me o apresentou pelo facebook, e a minha namorada que me ligou a dizer “força, eu estou cá para te ajudar no que for preciso”.
 As únicas coisas que me impediam de dizer “anda cão, fica comigo” era o “onde é que tu ficas” e “com quem é que ficas quando estiver a trabalhar”. Tenho que agradecer às pessoas que o deixaram entrar nas suas vidas...agradeço mesmo do fundo do coração, ele é uma responsabilidade minha, não queria dividir essa responsabilidade por algo que sempre me foi dito por familiares que era um capricho...talvez nem todos tiveram esta pobre educação em relação a cães (atenção, só me queixo desta parte da minha educação)...não me canso de agradecer aos "tios" e "tias".
Hoje, e só passou quase um mês, está quase curado da sarna (que já não contagia nem humanos nem animais), está a ser socializado, treinado com inibição de mordida e também outras regras básicas.
Não dá trabalho, para alem das idas nocturnas à casa de banho e de uma ou outra palermice habitual nos cachorros.
 Penso que é feliz, pelo menos os seus olhos assim o deixam transparecer...assim como o vigoroso abanar da cauda.
 Eu juntei mais um pouco (9 kg) de felicidade à minha vida, em cima daquela que já tinha (??kg) =P. Acho que estou a ir por um bom caminho...e a companhia é óptima.


...é verdade, já não se chama “Dreamy”, nem é um lobo checoslovaco. Agora chama-se “Ichi-ko” (que quer dizer “Pequeno-Um” em Japonês) e provavelmente é uma cruza de pastor alemão lobeiro.

O nome oficial: Okami no Ichi-ko Miau Nova Pereira (Okami=Lobo)